sábado, 11 de agosto de 2012

Fundamentos da Sagrada Escritura e da Sagrada Tradição sobre a Imaculada Conceição


Introdução
Vimos nas aulas anteriores que: ‘’A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano foi preservada imune de toda mancha do pecado original’’. É assim que nos ensina o Catecismo da Igreja Católica no parágrafo 491.
Bom, nessa aula veremos alguns fundamentos para este dogma, tantos da Sragada Escritura e da Sagrada Tradição.

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Uma figura da Imaculada Conceição

O pecado é a ofensa a Deus, ele O entristece, desta forma, a Segunda Pessoa da Trindade não poderia ser concebido em um ventre sujeito ao pecado. Ora, quando recebemos alguém em nossa casa procuramos deixar a casa em ordem, limpa, para que nossos convidados se sintam bem, se sintam acolhidos. Devemos entender a imaculada conceição da Virgem, como esta arrumação, providenciada pelo próprio Deus, pelos méritos de Cristo, para que Ele pudesse se encarnar.
Uma figura da Imaculada Conceição está no livro de Josué, onde lemos:

"Eis que a arca da aliança do Senhor de toda a terra vai atravessar diante de vós o Jordão. Tomai doze homens, um de cada tribo de Israel. Logo que os sacerdotes que levam a arca de Javé, o Senhor de toda a terra, tiverem tocado com a planta dos seus pés as águas do Jordão, estas serão cortadas, e as águas que vêm de cima pararão, amontoando-se. O povo dobrou suas tendas e dispôs-se a passar o Jordão, tendo diante de si os sacerdotes que marchavam na frente do povo levando a arca. No momento em que os portadores da arca chegaram ao rio e os sacerdotes mergulharam os seus pés na beira do rio - o Jordão estava transbordante e inundava suas margens durante todo o tempo da ceifa -,as águas que vinham de cima detiveram-se e amontoaram-se em uma grande extensão, até perto de Adom, localidade situada nas proximidades de Sartã; e as águas que desciam para o mar da planície, o mar Salgado, foram completamente separadas. O povo atravessou defronte de Jericó" (Js 3,11-16).

S. Francisco de Sales, no seu “Tratado do amor de Deus“, exprime essa verdade de um modo singelo e glorioso! “A torrente da iniqüidade original veio lançar as suas ondas impuras sobre a conceição da Virgem Sagrada, com a mesma impetuosidade que sobre a dos demais filhos de Adão; mas chegando ali, as vagas do pecado não passaram além, mas se detiveram, como outrora o Jordão no tempo de Josué, aqui respeitando a arca da aliança a torrente parou; lá em atenção ao Tabernáculo da verdadeira aliança, que é a Virgem Maria, o pecado original se deteve.

Da mesma forma como nos tempos de Josué, o Senhor impediu que as águas do Jordão tocassem a Arca da Aliança, o Senhor também impediu que as torrentes do pecado original tocassem a alma da Virgem no momento de sua conceição, com o fim único de preparar o tabernáculo pelo qual Cristo viria.

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''Bendito é o fruto do vosso ventre. ''
Jesus é o fruto de Maria. Ela é a árvore da qual veio o fruto, que é Jesus Cristo (Lc 1, 42). Na ordem natural das coisas, para que o fruto não venha estragado, a árvore, igualmente, não pode ser estragada, pois nenhum fruto bom e bonito vem de uma árvore horrorosa e estragada. 

Assim também com Maria: para que Jesus fosse um fruto não estragado pelo pecado, precisaria nascer de uma árvore, igualmente, que não fosse estragada pelo pecado, ou seja, uma árvore Imaculada. 

Ninguém pode dizer que come uma manga maravilhosa, gostosa e ao mesmo tempo dizer que pegou esta manga de uma mangueira estragada, morta e seca. 

Igualmente, ninguém pode dizer que Jesus é um fruto Imaculado (não-estragado) e que veio de uma árvore estragada, ou seja, não-imaculada.

Pois se dizermos que Maria, que é a árvore que trouxe o fruto (Jesus), não é imaculada (ou seja, que é estragada pelo pecado) estaríamos dizendo que Jesus não é imaculado, pois diríamos que veio como fruto ruim e estragado, pela consequência (resultado) de Ele nascer de uma árvore estragada.

Fruto estragado é consequência da árvore estragada.

Entre tantas árvores estragadas, existe só uma que não é, por ser uma uma fonte selada (uma excessão) - Cântico dos Cânticos 4, 12 - pois é dessa árvore Imaculada que vem o fruto Imaculado, Jesus.

Por isso, digamos com Santo Agostinho:
"Nem se deve tocar na palavra 'pecado' em se tratando de Maria; e isto em respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça" (Santo Agostinho, Sermão 215,3. 325 DC).
 

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Testemunho do livro de Gênesis
 
Depois da queda do pecado original, Deus falou ao demônio, oculto sob a forma de serpente: “Ei de por inimizade entre ti e a mulher, entre sua raça (semente) e a tua; ela te esmagará a cabeça” (Gen 3, 15). Basta um pouco de boa-vontade para compreender de que “mulher” o texto fala. A única mulher “cheia de graça“, “bendita entre todas“, na qual a “semente” ou (raça) foi Nosso Senhor Jesus Cristo (e os cristãos), é a Santíssima Virgem, a nova Eva, mãe do Novo Adão. Conforme esse texto, há uma luta entre dois antagonistas: de um lado, está uma mulher com o filho; do outro, o demônio. Quem há de ganhar a vitória são aqueles e não estes. Ora, se Nossa Senhora não fosse imaculada, essa inimizade não seria inteira e a vitória não seria total, pois Maria Santíssima teria sido, pelo menos em parte, sujeita ao poder do demônio através do Pecado Original. Em outras palavras, a inimizade entre a mulher (e sua posteridade) e a serpente, implica, necessariamente, que Nosso Senhor e Nossa Senhora não poderiam ter sido manchados pelo pecado original.
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Testemunho do Livro de Cânticos dos Cânticos:

Antigo e Novo Testamento em harmonia:

‘’Há sessenta rainhas, oitenta concubinas, e inumeráveis jovens mulheres; uma, porém, é a minha pomba, uma só a minha perfeita; ela é a única de sua mãe, a predileta daquela que a deu à luz. Ao vê-la, as donzelas proclamam-na bem-aventurada, rainhas e concubinas a louvam. ’’ (Cântico dos Cânticos 6, 8-9)

Que é essa perfeita?

‘’Porém, já veio Cristo, Sumo Sacerdote dos bens vindouros. E através de um tabernáculo mais excelente e mais perfeito, não construído por mãos humanas (isto é, não deste mundo).’’ (Hebreus 9, 11)

O Anjo confirma este texto de Cântico dos Cânticos: 
‘’Ave, cheia de Graça’’ (Lucas 1, 28)
A Virgem Maria tem a graça em plenitude. A graça que Eva havia perdido. Veremos isto com mais detalhes na próxima aula. Mais mesmo assim, continuemos com o assunto.

Quem é esta Bem-aventurada?

‘’Desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações. ’’ (Lucas 1, 48)

Quem é a bendita entre as mulheres que as concubinas louvam?

“E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.” (Lucas 1, 42)

Então, vemos claramente que a Virgem Santíssima é uma promessa desde o Antigo Testamento. Então, podemos dizer que estes textos se referem a Virgem Mãe de Deus.

Podendo o Espírito Santo criar Sua Esposa toda bela e pura, é claro que assim o fez. É dela que fala: “És toda formosa minha amiga, em ti não há mancha original” (Ct 4,7). Chama ainda Sua Esposa de “jardim fechado e fonte selada” (Ct 4,12), onde jamais os inimigos entraram para ofendê-la.

Vejamos mais testemunhos do livro de Cântico dos Cânticos que fazem alusões à Santíssima Virgem Maria:

‘’Como és formosa, amiga minha! Como és bela! Teus olhos são como pombas.’’ (Cântico dos Cânticos 1, 15)

‘’Como o lírio entre os espinhos, assim é minha amiga entre as jovens’’ (Cântico dos Cânticos 2, 2) – Compare com Lucas 1, 42.

‘’Tu és bela, minha querida, tu és formosa!’’ (Cântico dos Cânticos 4, 1)

‘’És toda bela, ó minha amiga, e não há mancha em ti’’ (Cântico dos Cânticos 4, 7) - Compare com Lucas 1, 28 - Se Ela é repleta de Graça (kekaritomene), ou seja, se somente a Ela é dado o nome “cheia de graça” e no tempo perfeito, indicando que este estado permanente dela foi completo, então, na alma Dela não existe espaço para a desgraça do pecado, pois sempre esteve repleta de Graça e o Senhor sempre esteve com Ela, mesmo antes da Encarnação.

‘’És um jardim fechado, minha irmã, minha esposa, uma nascente fechada, uma fonte selada’’ (Cântico dos Cânticos 4, 12). - A Virgem Santíssima é uma exceção, portanto, Imaculada.

‘’(...) minha pomba, minha perfeita.’’ (Cântico dos Cânticos 5, 2)

‘’(...) ó mais bela das mulheres’’ (Cântico dos Cânticos 5, 9) – Compare com Lucas 1, 42.
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O Testemunho de São Lucas
Uma das provas da Imaculada Conceição da Virgem Maria está na saudação do Anjo Gabriel. São Lucas, ao registrar que a Maria é cheia de graça utilizada a palavra grega charitoo, que é utilizada na Sagrada Escritura para designar a Graça no sentido pleno ou em toda sua plenitude.

Por esta razão, São Jerônimo, o maior especialista cristão nas línguas sagradas, no séc. IV ao traduzir as Escrituras para o latim (versão conhecida como Vulgata), traduziu a expressão grega como "gratia plena", que em português seria graça plena.

Que plenitude da Graça era essa que Maria alcançou? Era a Graça original, a Graça perdida no tempo em a nossa natureza humana não estava sujeita ao pecado, mas caiu nele por livre escolha.
Ora, era conveniente a Deus livrar Maria do pecado, para que Cristo pudesse nascer de um ventre Santo, sem manchas.

Na próxima aula, estudaremos somente esta expressão do Anjo com mais detalhes e responderemos algumas objeções protestantes em dizer que esta frase não pode provar a Imaculada Conceição. Aguarde!
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Testemunho da Carta aos Hebreus 

‘’Porém, já veio Cristo, Sumo Sacerdote dos bens vindouros. E através de um tabernáculo mais excelente e mais perfeito, não construído por mãos humanas (isto é, não deste mundo).’’ (Hebreus 9, 11)

Aqui São Paulo se expressa sobre o ventre que concebeu o menino-Deus, e o compara com um tabernáculo perfeito. Lembremos que no Antigo Testamento, no tabernáculo existia o lugar chamado "Santo dos Santos" ou "Santíssimo Lugar", que tinha a presença de Deus. Este lugar era visitado pelo sacerdote um vez por ano, e se entrasse lá em pecado, morria fulminado pela presença santa do Senhor. Era comum que o sacerdote entrasse amarrado a uma corda, que era usada para que o povo o puxasse se tivesse morrido. Pois onde Deus está, pecado não há.
Se a Virgem não foi preparada para ser a Mãe do Salvador, ela de forma alguma seria "um tabernáculo mais excelente e mais perfeito ".


Então, vemos que nesta passagem fica claro o milagre operado em Nossa Senhora na previsão dos méritos de seu divino Filho. Negar que Deus pudesse realizar tal milagre (Imaculada Conceição) seria duvidar de sua onipotência. Negar que Ele desejaria fazer tal milagre seria menosprezar seu amor filial, pois, como afirma S. Paulo: Deus construiu o seu “tabernáculo” que não foi “construído por mãos humanas“.

Ora, este tabernáculo, feito imediatamente por Deus e para Deus, devia revestir-se de toda a beleza e pureza que o próprio Deus teria podido outorgar a uma criatura.

E esta pureza perfeita e ideal se denomina: a Imaculada Conceição.

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Testemunho do livro da Sabedoria

‘’A Sabedoria [Jesus – O Verbo Encarnado] não entrará na alma perversa, nem habitará no corpo sujeito ao pecado’’ (Sabedoria 1, 4)

Aqui nós vemos, primeiramente, que a Sabedoria não entra na alma perversa. Vejamos o que o Anjo disse a Maria:

‘’Ave, cheia de Graça, o Senhor é contigo’’ - estas palavras angélicas, foram ditas antes da concepção pelo Espírito Santo, o que mostra que Deus está com a Nossa Senhora antes da encarnação do Verbo. E, onde está Deus não há pecado, como vemos em Sabedoria 1, 4, ou seja, Maria não tinha o Pecado Original.

‘’Bendito é o Fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a Mãe de meu Senhor?’’ – a Virgem Santíssima carregou o próprio Senhor durante 9 meses. Maria carregou a Sabedoria Encarnada. Se Ela tivesse pecados, como pode Jesus, que é o Rei dos Reis, ir habitar neste ventre, que seria um lugar onde Satanás reinaria? Jesus iria conviver 9 meses com seu inimigo? Não. Pois a ‘’Sabedoria não habita no corpo sujeito ao pecado’’ como nos ensina a própria Sagrada Escritura e por isso mesmo que São Cirilo de Alexandria (370-444) pergunta: “Que arquiteto, erguendo uma casa de moradia, consentiria que seu inimigo a possuísse inteiramente e habitasse?”

Se Jesus é o Fruto, e se o Fruto é Imaculado, a árvore também precisa ser Imaculada, pois ninguém pega uma manga, por exemplo, que esteja boa, gostosa, maravilhosa e ao mesmo tempo pegar numa árvore seca, morta, estragada.

‘’O Espírito Santo fugirá da alma perfídia’’ – (Sabedoria 1, 5). Se Maria tivesse uma alma perfídia, suja, pecadora, como o Anjo poderia dizer que o Espírito Santo desceria sobre ela, e que a força do Altíssimo A envolveria com sua sombra? Isso não era possível, pois vemos que a Sagrada Escritura diz que o Espírito Santo fugirá da alma perfídia. Concluímos que se Nossa Senhora tivesse o pecado original dentro dela, o Espírito Santo não iria descer sobre Ela para realizar tão grande milagre e de dá a Ela a Graça de trazer a Graça das Graças a este mundo.

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Testemunho do profeta Isaías

’’Teus lábios, ó esposa, destilam o mel; há mel e leite sob a tua língua. O perfume de tuas vestes é como o perfume do Líbano.’’ (Cântico dos Cânticos 4, 11)

“Por isso o Próprio Senhor vos dará um sinal: Uma virgem conceberá e dará a luz a um filho, e o chamará Deus conosco. Ele Será nutrido com manteiga e mel até que saiba rejeitar o mal e escolher o Bem” (Isaías 7, 14-15)

Podemos Concluir que, o leite e mel que estão na língua de Maria são figuras simbólicas que representam o alimento dos ensinamentos, que serviria fundamentalmente para que o filho de Deus que seria orientado pela virgem não contraísse pecado, o profeta Isaías nos confirma isto quando diz que este alimento serviria para que ele consiga rejeitar o mal, ficando bem claro que somente sob uma orientação imaculada Jesus não contrairia nenhuma mácula, e rejeitaria qualquer pecado.

"Pode o puro [Jesus] vir dum ser impuro? Jamais!"(Jó 14:4)
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Uso da razão
Também é pela própria razão que se pode concluir a Imaculada Conceição. É claro que o argumento racional não é definitivo, mas corroborou com muita conveniência – e completa harmonia – para com ele. Se Maria Santíssima fosse manchada do pecado original, essa mancha redundaria em menor glória para seu filho, que ficou nove meses no ventre de uma mulher que teria sido concebida na vergonha daquele pecado. Se qualquer mácula houvesse na formação de Maria Santíssima, teria havido igualmente na formação de Jesus, pois o filho é formado do sangue materno.
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A Necessidade da Imaculada Conceição

Se Deus pode preservar Nossa Senhora do pecado original em um ventre escravo deste pecado, por que que Deus não pode também preservar seu Filho nas mesmas condições? Isto leva a crer que não era necessário que a Virgem fosse Imaculada.
O Professor Carlos Ramalhete esclarece o caso: "É necessário para isso perceber como funciona a transmissão do Pecado Original.

O Pecado Original é transmitido do corpo dos pais ao dos filhos (em termos modernos poderíamos dizer que geneticamente, com óvulo e espermatozóide sendo portadores), e infecta a alma no instante de sua infusão no corpo (ou seja, no instante da concepção). Assim, a Imaculada Concepção foi um ato divino em que Ele impediu que houvesse esta contaminação; São Joaquim e Sant'Ana tinham o Pecado Original, e normalmente o teriam transmitido a sua filha. Deus, no entanto, impediu que a alma que Ele criou fosse contaminada pelo pecado original que normalmente a contaminaria. Este ato divino ocorreu no instante da concepção.

Assim, ela foi preservada das conseqüência do Pecado Original, e sua vontade era submissa a sua razão. Seu corpo e sua alma estavam livres desta inimizade com Deus, logo preparados para ceder seu material genético para a Encarnação do Verbo.

Já o caso de seu Filho é bastante diferente. Ele foi concebido pelo Espírito Santo, usando apenas material genético de Nossa Senhora. Como o material genético dela foi preservado por Deus do Pecado, esta concepção foi possível. Depois dessa concepção, em que o próprio Deus uniu-se a um corpo e alma humanos criados especialmente (posto que Nosso Senhor tem corpo humano - herdado da Virgem -, e alma humana - criada imediatamente por Deus, como todas as outras), não houve necessidade de fazer com Ele o que foi feito com Nossa Senhora. Isso aliás seria impossível, pois uma alma imaculada poderia viver em um ventre marcado pelo Pecado Original (o de Sant'Ana), mas a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade não.

Provavelmente a Mãe d'Ele teria morrido em meio a dores horríveis caso fosse marcada pelo Pecado Original e tentasse abrigar em seu ventre - que não seria imaculado - a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Há assim, duas respostas que se completam à pergunta:
1 - Deus preservou Nossa Senhora do Pecado Original para que ela pudesse ser aquela que cedeu seu material genético para a Encarnação do Verbo. Seu material genético deveria estar imaculado, ou teríamos o pior caso de incompatibilidade da história da Criação!

2 - Sua preservação, que teve o fim que acabo de expor, foi feita de maneira sumamente diferente do que ocorreu em seu ventre quando da Encarnação do Verbo. Ela não é Deus; ela é simplesmente alguém que não foi contaminado (por interferência divina direta), como por exemplo o filho não-aidético de uma grávida aidética. Não há uma contraposição, uma inimizade completa, mas apenas um corpo sadio abrigado em um corpo doente.

Já Nosso Senhor é o contrário do Pecado por definição. O Pecado é Seu inimigo, o Pecado é a ofensa feita a Ele. Assim, seria como misturar matéria e antimatéria, vírus e anticorpo, se Ele tivesse que ser colocado em um ventre marcado pelo Pecado Original. Ele não poderia ser nutrido por este corpo, Ele não poderia ter o Seu código genético originado deste corpo... a gravidez seria na verdade uma ilusão, pois Sua mãe não seria Sua mãe, sim Sua inimiga. Deus teria que ter criado o corpo dele do nada, e o mantido sem contato real com o corpo de Sua Mãe, ou ela morreria imediatamente."


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Os primeiros cristãos acreditavam na Imaculada Conceição?

A doutrina da Imaculada Conceição era, pois, conhecida no primeiro século e por todos admitida. A esse respeito, nenhuma contradição se levantou na primitiva Igreja.

S. Tiago Menor, o qual realizou o esquema da liturgia da Santa Missa, prescreve a seguinte leitura, após ler uns passos do antigo e do novo testamento, e de umas orações: 

Fazemos memória de nossa Santíssima, Imaculada, e gloriosíssima Senhora Maria, Mãe de Deus e sempre Virgem“.

O santo Apóstolo não se limita a isso, mas torna a sua fé mais expressiva ainda. Após a consagração e umas preces, ele faz dizer ao Celebrante: 

Prestemos homenagem, principalmente, a Nossa Senhora, a Santíssima, Imaculada, abençoada acima de todas as criaturas, a gloriosíssima Mãe de Deus, sempre Virgem Maria.

E os cantores respondem

‘’É verdadeiramente digno que nós vos proclamemos bem-aventurada e em toda linha irrepreensível, Mãe de Nosso Deus, mais digna que os querubins, mais digna de glória que os serafins; a vós que destes à luz o Verbo divino, sem perder a vossa integridade perfeita, nós glorificamos como Mãe de Deus” (S. jacob in Liturgia sua).

O evangelista S. Marcos, na Liturgia que deixou às igrejas do Egito, serve-se de expressões semelhantes: 

Lembremo-nos, sobretudo, da Santíssima, intemerata e bendita Senhora Nossa, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria“.

Na Liturgia dos etíopes, de autor desconhecido, mas cuja composição data do primeiro século, encontramos diversas menções explícitas da Imaculada Conceição. Umas das suas orações começa nestes termos: 

‘’Alegrai-vos, Rainha, verdadeiramente Imaculada, alegrai-vos, glória de nossos pais’’.

Mais adiante, é pela intercessão da Imaculada Virgem Maria que o Sacerdote invoca a Deus em favor dos fiéis: 

Pelas preces e a intercessão que faz em nosso favor Nossa Senhora, a Santa e Imaculada Virgem Maria.“.

Terminamos o primeiro século com as palavras de Santo André, apóstolo, expondo a doutrina cristã ao procônsul Egeu, passagem que figura nas atas do martírio do mesmo santo, e data do primeiro século: 

Tendo sido o primeiro homem formado de uma terra imaculada, era necessário que o homem perfeito nascesse de uma Virgem igualmente imaculada, para que o Filho de Deus, que antes formara o homem, reparasse a vida eterna que os homens tinham perdido” (Cartas dos Padres de Acaia).

Santo Hipólito, bispo de Porto e mártir, escreveu em 220: 

O Cristo foi concebido e tomou o seu crescimento de Maria, a Mãe de Deus toda pura“.

Mais além ele diz: 

Como o Salvador do mundo tinha decretado salvar o gênero humano, nasceu da Imaculada Virgem Maria“.

Santo Hipólito diz mais:


"Ele (=Jesus) era a arca composta por madeira incorruptível. Com efeito, o seu tabernáculo (=Maria) era isento da podridão e corrupção"

Orígenes, que viveu em 226 e pareceu resumir a doutrina e as tradições de sua época, escreveu: 

Maria, a Virgem-Mãe do Filho único de Deus, é proclamada a digna Mãe deste digno Filho, a Mãe Imaculada do Santo e Imaculado, sendo ela única, como único é o seu próprio Filho.”


Em um dos seus sermões sobre S. José, Orígenes faz o mensageiro celeste dizer ao santo:

Este menino não precisa de Pai na terra, porque tem um pai incorruptível no céu; não precisa de Mãe no Céu, porque tem uma Mãe Imaculada e casta na terra, a Virgem Bem-aventurada, Maria“.

  
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Frases de alguns Santos que nos ajudam a compreender a doutrina da Imaculada Conceição


“A santidade do Filho é causa da santificação antecipada da Mãe, como o sol ilumina o céu antes de ele mesmo aparecer no horizonte” . (Cardeal Suenens)


“Para tomar a terra digna de trazer e receber seu Deus, o Senhor fez nascer na terra uma pessoa rara e eminente que não tomou parte alguma no pecado do mundo e está dotada de todos os ornamentos e privilégios que o mundo jamais viu e jamais verá, nem na terra e nem no céu” (Cardeal Bérulle Con. Vidigal, Temas Marianos, p. 307). 

Neste seio virginal, diz S. Luiz, Deus preparou o “paraíso do novo Adão” (Tratado da Verdadeira Devoção , n. 18).


Santo Afonso de Ligório:
“Maria tinha de ser medianeira de paz entre Deus e os homens. Logo, absolutamente não podia aparecer como pecadora e inimiga de Deus, mas só como Sua amiga, toda imaculada” (Glórias de Maria, p. 209). E ainda: “Maria devia ser mulher forte, posta no mundo para vencer a Lúcifer, e portanto devia permanecer sempre livre de toda mácula e de toda a sujeição ao inimigo” (idem, p. 209). Leia Gênesis 3, 15

S. Bernardino de Sena (†1444), diz a Maria: “Antes de toda criatura fostes, ó Senhora, destinada na mente de Deus para Mãe do Homem Deus. Se não por outro motivo, ao menos pela honra de seu Filho, que é Deus, era necessário que o Pai Eterno a criasse pura de toda mancha".

''Diz o livro dos Provérbios: “A glória dos filhos são seus pais” (Pr 17,6); logo, é certo que Deus quis glorificar Seu Filho humanado também pelo nascimento de uma Mãe toda pura. ''

S. Tomas de Vilanova (†1555), chamado de São Bernardo espanhol, disse em sua teologia sobre Nossa Senhora: “Nenhuma graça foi concedida aos santos sem que Maria a possuísse desde o começo em sua plenitude” . 

S. João Damasceno, doutor da Igreja (†749), afirma: “Há, porém, entre a Mãe de Deus e os servos de Deus uma infinita distância” . 

E pergunta S. Anselmo, bispo e doutor da Igreja (†1109), e grande defensor da Imaculada Conceição: 
 
“Deus, que pôde conceder a Eva a graça de vir ao mundo imaculada, não teria podido concedê-la também a Maria?” 

“A Virgem, a quem Deus resolveu dar Seu Filho Único, tinha de brilhar numa pureza que ofuscasse a de todos os anjos e de todos os homens e fosse a maior imaginável abaixo de Deus” .

É importante notar que S. Afonso de Ligório afirma: “O espírito mal buscou, sem dúvida, infeccionar a alma puríssima da Virgem, como infeccionado já havia com seu veneno a todo o gênero humano. Mas louvado seja Deus! O Senhor a preveniu com tanta graça, que ficou livre de toda mancha do pecado. E dessa maneira pode a Senhora abater e confundir a soberba do inimigo” . 

Nenhum de nós pode escolher sua Mãe; Jesus o pode. Então pergunta S. Afonso: “Qual seria aquele que, podendo ter por Mãe uma rainha, a quisesse uma escrava? Por conseguinte, deve-se ter por certo que a escolheu tal qual convinha a um Deus”

Quando Deus eleva alguém a uma alta dignidade, também o torna apto para exercê-la, ensina S. Tomás de Aquino. 
''Portanto tendo eleito Maria para Sua Mãe, por Sua graça a tornou digna de ser livre de todo o pecado, mesmo venial, ensinava S. Tomás; caso contrário, a ignomínia da Mãe passaria para o Filho. ''

Nesta mesma linha afirmava S. Agostinho de Hipona, Bispo e doutor da Igreja (†430), já no século V: 


Nem se deve tocar na palavra “pecado” em se tratando de Maria; e isso por respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça”

Pergunta S. Cirilo de Alexandria (370-444), bispo e doutor da Igreja: 
“Que arquiteto, erguendo uma casa de moradia, consentiria que seu inimigo a possuísse inteiramente e habitasse?”

S. Bernardino de Sena ensina que Jesus veio para salvar a todos, inclusive Maria. Contudo, há dois modos de remir: levantando o decaído ou preservando-o da queda. Este último modo Deus aplicou a Maria. 


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Testemunho de Lourdes
Nossa Senhora foi a restauradora da ordem perdida por meio de Eva. Eva nos trouxe a morte, Maria nos dá a vida. O que Eva perdeu por orgulho, Nossa Senhora ganhou por humildade.

Passados apenas 3 anos da solene proclamação do Dogma da Imaculada Conceição, em 11 de agosto de 1858, Nossa Senhora dignou-se aparecer milagrosamente quinze dias seguidos, perto da pequena cidade de Lourdes, na França, a uma pobre menina, de 13 anos de idade, chamada Bernadete.

No dia 25 de março, Bernadete suplicou que Nossa Senhora lhe revelasse seu nome. Após três pedidos seguidos, Nossa Senhora lhe respondeu: “Eu sou a Imaculada Conceição“.
Eis a chave de ouro que encerra a tradição ininterrupta dos Apóstolos.
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Como já foi dito, na próxima aula estudaremos a Saudação do Anjo à Santíssima Virgem.

Se você ficou com alguma dúvida, entre em contato pelo e-mail.

Até a próxima aula.

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